Sensibilidade Sensorial e Emoções no Autismo: O Que a Ciência Revela?

Last Updated on 3 de março de 2025 by Diego Tinoco

Você já percebeu que algumas crianças autistas parecem extremamente sensíveis a sons, luzes ou toques? Ou que outras parecem não notar certos estímulos do ambiente? Esse comportamento tem uma explicação científica e pode estar diretamente ligado à maneira como elas processam emoções e interagem socialmente.

Um estudo recente publicado na Research in Autism Spectrum Disorders explorou justamente essa relação entre sensibilidade sensorial, dificuldades emocionais  e comportamentos sociais em crianças autistas. Os resultados trazem novas perspectivas para entender melhor as particularidades do autismo e pensar em estratégias de suporte mais eficazes.

Sensibilidade Sensorial no Autismo: O Que Isso Significa?

A sensibilidade sensorial no autismo pode se manifestar de diferentes formas, sendo as principais:

Hiper-responsividade → A criança reage de forma intensa a estímulos comuns, como barulhos, luz forte ou certos tecidos na roupa.

Hipo-responsividade → A criança não reage muito a estímulos, podendo não perceber quando alguém a chama pelo nome ou não sentir desconforto com temperaturas extremas.

Busca sensorial → A criança procura ativamente estímulos, como girar objetos, balançar o corpo repetidamente ou tocar superfícies com diferentes texturas.

A Relação Entre Sensibilidade Sensorial e Emoções

O estudo analisou 38 crianças autistas e 35 crianças não autistas e identificou que:

🔹 Crianças autistas tiveram maior sensibilidade sensorial do que crianças não autistas.

🔹 A hiper-responsividade sensorial esteve diretamente ligada a maiores dificuldades emocionais, ou seja, crianças que se incomodavam mais com estímulos sensoriais também tinham mais dificuldades em reconhecer e expressar emoções (alexitimia).

🔹 Crianças autistas com alta sensibilidade sensorial também apresentaram mais dificuldades sociais e comportamentos repetitivos.

Por Que Isso Acontece?

Uma explicação possível é a teoria do código preditivo, que sugere que, no autismo, o cérebro tem mais dificuldade para prever e filtrar estímulos sensoriais. Isso faz com que sons, luzes e toques pareçam mais intensos e imprevisíveis, gerando sobrecarga e dificultando a regulação emocional.

Como Essas Descobertas Podem Ajudar?

📌 Adaptação do ambiente → Reduzir estímulos excessivos pode ajudar a diminuir a sobrecarga sensorial e emocional.

📌 Terapias personalizadas → Estratégias focadas na regulação sensorial podem ajudar na comunicação e na interação social.

📌 Maior compreensão e acolhimento → Entender que uma criança autista pode estar reagindo a estímulos intensos e não apenas “fazendo birra” pode transformar a maneira como lidamos com esses desafios.

Conclusão

Esse estudo reforça a importância de considerar a sensibilidade sensorial no autismo não apenas como um detalhe diagnóstico, mas como um fator que pode influenciar emoções, relações sociais e comportamentos. Isso significa que, ao oferecer suporte adequado para lidar com estímulos sensoriais, podemos ajudar crianças autistas a se sentirem mais confortáveis e desenvolvem melhor suas habilidades emocionais e sociais.

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📚 Referência:

DIEPMAN, M.; BRADY, N. Sensory responsivity and its relation to alexithymia, social processing and restricted interests and repetitive behaviour in autistic children. Research in Autism Spectrum Disorders, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.rasd.2024.102470.

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Diego Tinoco

Diego Tinoco é cidadão brasileiro. Nasceu em Curvelo-MG e atualmente reside em Belo Horizonte. É médico, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da UFMG, pós graduado em saúde da família pela UFMG. Nesse site você encontra opiniões do cidadão sobre a vida e o mundo.

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