Last Updated on 30 de março de 2024 by Diego Tinoco
Em um estudo pioneiro, publicado na “JAMA Psychiatry” neste mês de Março de 2024, pesquisadores se debruçaram sobre uma questão complexa e contemporânea: qual o impacto do uso de substâncias psicodélicas, como LSD e psilocibina, na saúde mental de adolescentes? Mais especificamente, eles investigaram a associação entre o uso dessas substâncias e a manifestação de sintomas psicóticos e maníacos, levando em consideração a variável crítica da predisposição genética.
Contextualização e Metodologia
Realizada com uma vasta amostra de 16.255 gêmeos adolescentes na Suécia, esta pesquisa adotou uma abordagem longitudinal e genética para entender melhor as nuances desta relação. Os participantes foram avaliados em três fases distintas de suas vidas juvenis — aos 15, 18 e 24 anos — com foco particular nas respostas fornecidas aos 15 anos sobre o uso prévio de psicodélicos. Através de uma análise detalhada, os pesquisadores puderam ajustar os resultados levando em conta o uso concomitante de outras substâncias, o que é crucial para isolar o efeito específico dos psicodélicos.
Principais Descobertas
De forma intrigante, o estudo revelou que o uso de psicodélicos estava associado a uma diminuição nos sintomas psicóticos após ajustar para o uso de outras drogas. Essa observação sugere um possível efeito protetor ou terapêutico dessas substâncias, contrariando as expectativas de muitos e abrindo caminho para futuras investigações sobre o potencial uso dos psicodélicos em contextos clínicos.
Por outro lado, o estudo também apontou para uma realidade mais complexa no que diz respeito aos sintomas maníacos. Adolescentes com maior vulnerabilidade genética para distúrbios como esquizofrenia e transtorno bipolar I mostraram uma tendência a experimentar mais sintomas maníacos após o uso de psicodélicos. Esse resultado ressalta a importância da genética como um fator determinante na resposta individual ao uso dessas substâncias, evidenciando a necessidade de cautela e avaliação cuidadosa da história familiar ao considerar os psicodélicos como uma opção terapêutica.
Implicações e Considerações Futuras
Esses achados destacam a complexidade inerente ao uso de psicodélicos, especialmente entre os jovens. Enquanto há indícios de benefícios potenciais, existem também riscos significativos, particularmente para indivíduos com predisposições genéticas a certas condições psiquiátricas. Isso sublinha a necessidade de uma abordagem personalizada na avaliação dos riscos e benefícios do uso de psicodélicos, bem como a importância de pesquisas adicionais para elucidar os mecanismos subjacentes a esses efeitos.
Conclusão
Este estudo constitui um passo importante na compreensão dos impactos dos psicodélicos na saúde mental adolescente. Ele lança luz sobre a interação complexa entre substâncias psicoativas, a psique em desenvolvimento e o substrato genético individual, desafiando percepções simplistas e abrindo novas avenidas de pesquisa e discussão. Enquanto a promessa de terapias baseadas em psicodélicos continua a fascinar a ciência e a sociedade, é essencial que a cautela e a compreensão profunda guiem o caminho à frente.
Saiba mais sobre o estudo nas referências abaixo.
Referências:
Simonsson O , Mosing MA , Osika W, et al. Uso psicodélico por adolescentes e sintomas psicóticos ou maníacos. Psiquiatria JAMA. Publicado on-line em 13 de março de 2024. doi:10.1001/jamapsychiatry.2024.0047. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/2816354?widget=personalizedcontent&previousarticle=0