Last Updated on 20 de fevereiro de 2025 by Diego Tinoco
Título: Como o Autismo e a Ansiedade Social Podem Andar Juntos: Uma Visão Simplificada da Revisão Científica
Você sabia que muitas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) também podem sentir um medo intenso de serem avaliadas ou julgadas negativamente, o que chamamos de ansiedade social? Esse assunto foi estudado a fundo em uma revisão científica chamada “Ansiedade social no transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática”, conduzida por Debbie Espanha, Jaqueline Sin, Kai B. Linder, Johanna McMahon e Francesca Happé, e publicada em 2018.
A seguir, explico de forma simples como essa pesquisa pode ajudar pacientes, familiares e qualquer pessoa interessada em entender melhor como o TEA e a ansiedade social podem se sobrepor e impactar a vida de crianças, adolescentes e adultos.
TEA: Mais do que Apenas Dificuldade de Comunicação
O Transtorno do Espectro Autista se caracteriza por alterações na forma de se comunicar, interagir e perceber o mundo. Alguns sinais comuns são:
•Interesses restritos ou intensos (por exemplo, um passatempo ou tema específico que a pessoa gosta de conversar o tempo todo).
•Dificuldade na interação social (pode haver pouco contato visual e dificuldade para entender expressões faciais ou tom de voz).
•Sensibilidade sensorial (algumas pessoas podem se incomodar muito com barulhos, luzes fortes ou certos tipos de toque).
É importante lembrar que cada pessoa é única, então esses sinais aparecem de maneiras diferentes em cada um.
Ansiedade Social: Quando o Medo de Ser Julgado Paralisa
A ansiedade social, por sua vez, envolve um medo intenso de situações sociais em que a pessoa acha que pode ser avaliada negativamente. Isso vai muito além de uma simples timidez: pode resultar em evitação de eventos, queda na autoestima e isolamento.
No caso de quem está no espectro do autismo, esse medo pode ser ainda maior, pois a dificuldade de interpretar sinais sociais ou manter uma conversa pode gerar insegurança e receio de ser “diferente” ou criticado.
O Que Diz a Revisão Científica
Na revisão sistemática “Ansiedade social no transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática”, publicada em 2018, os pesquisadores analisaram diversos estudos que relacionam o TEA à ansiedade social e destacaram pontos importantes:
1. Alta Frequência de Ansiedade Social no TEA
Muitos estudos mostram que a ansiedade social pode atingir até metade das pessoas com autismo, número bem superior ao da população em geral.
2. Dificuldades de Comunicação Intensificam o Medo
Quem tem mais dificuldade para se expressar ou entender o outro tende a ter mais medo de situações sociais, o que pode agravar a ansiedade.
3. O Papel da Motivação Social
Algumas pessoas com TEA podem ter menos vontade de se envolver em atividades de grupo. Quando também têm ansiedade social, isso gera um ciclo de afastamento ainda maior.
4. Nem Sempre é Só Timidez
A revisão alerta que sintomas de ansiedade social podem ser confundidos com a timidez típica do TEA, mas há fatores específicos (como medo da avaliação negativa) que apontam para a presença dessa fobia social.
5. Intervenção e Suporte São Essenciais
Treinamento de habilidades sociais, terapia focada em ansiedade e suporte profissional (por exemplo, psiquiatra e psicólogo) podem melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta esses desafios.
Por Que Isso é Importante?
Entender a ligação entre autismo e ansiedade social pode ajudar:
•Família a apoiar e compreender melhor as dificuldades do dia a dia.
•Profissionais de saúde a criar tratamentos mais direcionados, unindo terapia cognitivo-comportamental e apoio nos desafios do autismo.
•A própria pessoa com TEA a perceber que não está sozinha e que existe ajuda especializada para lidar com esses medos.
Dicas Práticas para Lidar com TEA e Ansiedade Social
1.Busque Avaliação Especializada: Diagnósticos bem feitos podem esclarecer se há ansiedade social somada ao TEA.
2.Terapias Adaptadas: Abordagens que trabalham exposição gradual a situações sociais e treinamento de competências sociais fazem diferença.
3.Ambientação Segura: Respeitar o ritmo e as preferências sensoriais de quem tem autismo evita sobrecargas e crises de ansiedade.
4.Educação Familiar e Escolar: Professores e familiares podem aprender estratégias para incentivar a interação de forma acolhedora e sem pressão.
Conclusão
A revisão “Ansiedade social no transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática” deixa claro como o medo de ser julgado pode agravar as dificuldades de interação social típicas do autismo. Em contrapartida, esse conhecimento abre caminho para estratégias e tratamentos que ajudem cada pessoa a conquistar uma vida social mais tranquila, com menos medo e mais participação.
Se você, um familiar ou amigo passa por algo semelhante, procure ajuda profissional. Quanto mais cedo a ansiedade for identificada e trabalhada, maiores as chances de desenvolvimento saudável e bem-estar.
Referências
•Espanha, D., Sin, J., Linder, K. B., McMahon, J., & Happé, F. (2018). Ansiedade social no transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática. Research in Autism Spectrum Disorders, disponível online em 26 de maio de 2018.
•American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.).
•Bellini, S. (2004). The development of social anxiety in adolescents with autism spectrum disorders. Focus on Autism and Other Developmental Disabilities, 19(2), 78–86.
Lembre-se: cada pessoa com TEA é única e pode ter experiências diferentes com a ansiedade social. Um acompanhamento multidisciplinar (psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, entre outros) e o envolvimento da família são essenciais para um melhor resultado.