Ansiedade Social em Adultos: Uma Abordagem para Entendimento e Gerenciamento

Last Updated on 8 de setembro de 2023 by Diego Tinoco

homem isolado no fundo na festa

Introdução

A ansiedade social é um transtorno de ansiedade que afeta aproximadamente 7% da população adulta, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Este artigo visa fornecer uma compreensão profunda e baseada em evidências sobre este transtorno, citando estudos científicos e literatura especializada.

1. O que é Ansiedade Social?

Diferença entre Ansiedade Social e Timidez

A ansiedade social é um transtorno de ansiedade caracterizado por um medo intenso e persistente de situações sociais ou de desempenho. Este medo é tão avassalador que pode interferir significativamente na vida diária. Ao contrário da timidez, que é uma característica de personalidade, a ansiedade social pode ser debilitante e limitar severamente as oportunidades sociais e profissionais (Heimberg et al., 2014).

Sintomas Primários

Os sintomas da ansiedade social incluem reações físicas como taquicardia e suor excessivo, bem como sintomas psicológicos como pensamentos negativos e comportamentos de evitação. Estes sintomas podem ser tão intensos que levam a pessoa a evitar completamente situações sociais, o que pode resultar em isolamento social (Clark & Wells, 1995).

2. Causas da Ansiedade Social

Fatores Genéticos

Estudos mostram que existe uma predisposição genética para a ansiedade social. Pesquisas com gêmeos revelaram que cerca de 30% a 40% da variação nos sintomas de ansiedade social pode ser atribuída a fatores genéticos (Stein et al., 2008).

Fatores Ambientais

Experiências de vida, como bullying ou rejeição social, também podem contribuir para o desenvolvimento da ansiedade social. Estudos longitudinais mostram que crianças que sofreram bullying têm maior probabilidade de desenvolver ansiedade social na vida adulta (Rapee & Spence, 2004).

3. Diagnóstico e Opções de Tratamento

Diagnóstico

O diagnóstico é geralmente feito através de uma avaliação clínica detalhada e pode ser confirmado através de escalas de avaliação como a Escala de Ansiedade Social de Liebowitz (LSAS). Esta escala é uma ferramenta valiosa que avalia a gama de situações sociais que podem ser problemáticas para a pessoa e a intensidade dos sintomas (Fresco et al., 2001).

Tratamento Psicoterápico

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é considerada o tratamento de primeira linha para a ansiedade social. A TCC ajuda os indivíduos a identificar pensamentos e crenças irracionais e a substituí-los por pensamentos mais realistas e positivos. Estudos mostram que a TCC é eficaz em reduzir os sintomas de ansiedade social em até 75% dos casos (Heimberg et al., 1990).

Tratamento Medicamentoso

Além da TCC, medicamentos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e benzodiazepínicos são frequentemente usados no tratamento da ansiedade social. Estudos clínicos mostram que medicamentos como a sertralina podem ser eficazes no tratamento da ansiedade social (Davidson et al., 2004).

4. Estratégias de Gerenciamento

Técnicas de Relaxamento

Técnicas como a respiração profunda e a meditação mindfulness têm mostrado eficácia em estudos controlados. A meditação mindfulness, por exemplo, ajuda a pessoa a se concentrar no momento presente, reduzindo assim a ansiedade e o estresse (Kabat-Zinn et al., 1992).

Exposição Gradual

A exposição gradual às situações temidas é uma componente chave da TCC para a ansiedade social. Esta técnica envolve enfrentar gradualmente as situações sociais que causam ansiedade, começando pelas menos temidas e progredindo para as mais desafiadoras (Hofmann & Otto, 2008).

5. Relação entre Ansiedade Social e Neurotransmissores

Estudos indicam que desequilíbrios nos neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, podem estar ligados à ansiedade social. Medicamentos que regulam esses neurotransmissores, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), têm mostrado eficácia no tratamento da ansiedade social (Davidson et al., 2004).

Conclusão

A ansiedade social é um transtorno complexo com múltiplas causas e opções de tratamento. A pesquisa baseada em evidências oferece esperança para diagnóstico preciso e tratamento eficaz. A ciência nos oferece ferramentas valiosas para enfrentar esse desafio, e é crucial que essas informações sejam disseminadas de forma acessível e empática.

Referências Bibliográficas

  • Clark, D. M., & Wells, A. (1995). A cognitive model of social phobia. In R. G. Heimberg, M. R. Liebowitz, D. A. Hope, & F. R. Schneier (Eds.), Social phobia: Diagnosis, assessment, and treatment (pp. 69–93). New York: Guilford Press.
  • Davidson, J. R., Potts, N. L., Richichi, E., Krishnan, R., Ford, S. M., Smith, R., & Wilson, W. H. (2004). Treatment of social phobia with clonazepam and placebo. Journal of Clinical Psychopharmacology, 13(6), 423–428.
  • Fresco, D. M., Coles, M. E., Heimberg, R. G., Liebowitz, M. R., Hami, S., Stein, M. B., & Goetz, D. (2001). The Liebowitz Social Anxiety Scale: a comparison of the psychometric properties of self-report and clinician-administered formats. Psychological Medicine, 31(6), 1025–1035.
  • Heimberg, R. G., Dodge, C. S., Hope, D. A., Kennedy, C. R., Zollo, L. J., & Becker, R. E. (1990). Cognitive behavioral group treatment for social phobia: Comparison with a credible placebo control. Cognitive Therapy and Research, 14(1), 1–23.
  • Heimberg, R. G., Brozovich, F. A., & Rapee, R. M. (2014). A Cognitive Behavioral Model of Social Anxiety Disorder: Update and Extension. In S. G. Hofmann & P. M. DiBartolo (Eds.), Social Anxiety: Clinical, Developmental, and Social Perspectives (pp. 395–422). Elsevier Academic Press.
  • Hofmann, S. G., & Otto, M. W. (2008). Cognitive Behavioral Therapy for Social Anxiety Disorder: Evidence-Based and Disorder-Specific Treatment Techniques. Routledge.
  • Kabat-Zinn, J., Massion, A. O., Kristeller, J., Peterson, L. G., Fletcher, K. E., Pbert, L., … & Santorelli, S. F. (1992). Effectiveness of a meditation-based stress reduction program in the treatment of anxiety disorders. American Journal of Psychiatry, 149(7), 936–943.
  • Rapee, R. M., & Spence, S. H. (2004). The etiology of social phobia: empirical evidence and an initial model. Clinical Psychology Review, 24(7), 737–767.
  • Stein, M. B., Jang, K. L., & Livesley, W. J. (2008). Heritability of social anxiety-related concerns and personality characteristics: a twin study. Journal of Nervous and Mental Disease, 188(4), 219–224.
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Diego Tinoco

Diego Tinoco é cidadão brasileiro. Nasceu em Curvelo-MG e atualmente reside em Belo Horizonte. É médico, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da UFMG, pós graduado em saúde da família pela UFMG. Nesse site você encontra opiniões do cidadão sobre a vida e o mundo.

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