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Déficit de Atenção e TDAH: Desvendando a Relação e a Neurobiologia

Last Updated on 30 de maio de 2023 by Diego Tinoco

Entendendo o Déficit de Atenção

O déficit de atenção é um termo amplamente usado no campo da psicologia e psiquiatria que se refere a uma variedade de problemas com desatenção ou dificuldades em manter o foco. Embora o termo seja comumente usado, pode ser um pouco confuso e mal interpretado, pois o “déficit de atenção” não significa necessariamente a ausência total de atenção. Em vez disso, refere-se a uma dificuldade em gerenciar e direcionar a atenção de maneira eficaz.

Muitas vezes, as pessoas que sofrem de déficit de atenção são capazes de se concentrar intensamente em coisas que as interessam, mas têm dificuldade em manter a atenção em tarefas que consideram mais burocráticas ou menos dinâmicas ou que exigem um esforço mental sustentado. Isso pode resultar em comportamentos como facilmente distraído, esquecimento, dificuldade em organizar tarefas e seguir instruções complexas.

Déficit de Atenção é Igual a TDAH?

Há uma tendência comum de igualar déficit de atenção ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), mas a verdade é um pouco mais complexa. O déficit de atenção é, de fato, um sintoma central do TDAH, mas nem todos que têm problemas com a atenção necessariamente sofrem de TDAH.

O TDAH é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por padrões de instabilidade da atenção (déficit de atenção), hiperatividade e impulsividade que são mais frequentes e severos do que o típico para a idade e nível de desenvolvimento de um indivíduo. Há três tipos principais de TDAH: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo-impulsivo e uma combinação dos dois. Para receber o diagnóstico de TDAH, um indivíduo deve apresentar um certo número de sintomas específicos, como definido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).

Portanto, enquanto o déficit de atenção é um aspecto do TDAH, é possível ter dificuldades de atenção sem atender aos critérios diagnósticos completos para TDAH. No entanto, qualquer problema contínuo com a atenção que afeta negativamente a vida de uma pessoa merece atenção e avaliação médica.

Exemplos Práticos na Vida de um Adulto

Em adultos, o déficit de atenção pode se manifestar de várias maneiras. Pode se apresentar como uma dificuldade em se concentrar em tarefas no trabalho, resultando em erros e baixa produtividade. Ou pode se apresentar como um desafio em gerenciar o tempo e organizar tarefas, causando estresse e sobrecarga.

Em situações sociais, um adulto com déficit de atenção pode ter dificuldade em acompanhar conversas, parecer desinteressado ou distante, ou interromper os outros sem perceber. Também pode haver problemas em seguir instruções complexas ou completar tarefas domésticas.

Por exemplo, um adulto com déficit de atenção pode iniciar várias tarefas, como lavar a roupa, limpar a casa, ou fazer um relatório de trabalho, mas achar difícil completá-las. Eles podem se distrair facilmente, passando de uma tarefa para outra sem terminar a anterior. Isso pode levar a frustração e baixa autoestima, pois podem sentir que não estão atingindo seu potencial ou cumprindo suas responsabilidades.

A Neurobiologia do Déficit de Atenção e TDAH

Do ponto de vista neurobiológico, o déficit de atenção e o TDAH envolvem várias áreas do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal, os gânglios basais, o cerebelo e o sistema límbico. Estas áreas do cérebro desempenham papéis fundamentais na regulação da atenção, impulsividade, controle motor e função executiva.

Pesquisas sugerem que pessoas com TDAH têm diferenças notáveis na estrutura e função dessas áreas cerebrais. Estudos de neuroimagem mostraram, por exemplo, que alguns indivíduos com TDAH têm uma menor densidade de matéria cinzenta em certas áreas do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal.

Além disso, estudos indicam que os neurotransmissores dopamina e norepinefrina desempenham um papel crucial no TDAH. Estes neurotransmissores são essenciais para a comunicação entre células cerebrais e são fundamentais para funções como atenção, memória de trabalho e controle impulsivo. Em pessoas com TDAH, pode haver um desequilíbrio na produção ou no processamento desses neurotransmissores, o que poderia contribuir para os sintomas do distúrbio.

Conclusão

A relação entre déficit de atenção e TDAH é complexa e multidimensional. Enquanto o déficit de atenção é um aspecto central do TDAH, nem todas as pessoas com déficit de atenção atendem aos critérios para um diagnóstico de TDAH. Compreender a neurobiologia subjacente e como isso se manifesta no comportamento diário é fundamental para gerenciar eficazmente essas questões. Se você ou um ente querido está lutando com problemas de atenção, é importante procurar avaliação e tratamento profissional.

Referências:

  1. American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed.). Arlington, VA: Author.
  2. Barkley, R. A. (2014). Attention-deficit hyperactivity disorder: A handbook for diagnosis and treatment. Guilford Publications.
  3. Faraone, S. V., Asherson, P., Banaschewski, T., Biederman, J., Buitelaar, J. K., Ramos-Quiroga, J. A., … & Franke, B. (2015). Attention-deficit/hyperactivity disorder. Nature reviews Disease primers, 1(1), 1-23.
  4. Durston, S. (2003). A review of the biological bases of ADHD: what have we learned from imaging studies?. Mental Retardation and Developmental Disabilities Research Reviews, 9(3), 184-195.
  5. Rubia, K. (2018). Cognitive neuroscience of attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) and its clinical translation. Frontiers in human neuroscience, 12, 100.
  6. Bush G. (2010). Attention-deficit/hyperactivity disorder and attention networks. Neuropsychopharmacology, 35(1), 278–300.
  7. Cortese, S. (2012). The neurobiology and genetics of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD): what every clinician should know. European journal of paediatric neurology, 16(5), 422-433.
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Diego Tinoco

Diego Tinoco é cidadão brasileiro. Nasceu em Curvelo-MG e atualmente reside em Belo Horizonte. É médico, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da UFMG, pós graduado em saúde da família pela UFMG. Nesse site você encontra opiniões do cidadão sobre a vida e o mundo.

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