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O distanciamento familiar no século XXI: uma reflexão

Last Updated on 24 de novembro de 2021 by Diego Tinoco

Distanciamento Familiar no século XXI. Uma reflexão.


Você acha que as pessoas estão se distanciando dos familiares ou se aproximando nas últimas décadas? Qual o papel da tecnologia nesse processo? A pandemia aproximou ou distanciou os familiares? 


É disso que vamos refletir nos próximos parágrafos desse texto.

O Distanciamento e a pandemia:


A pandemia do Covid-19 provocou o distanciamento social para evitar a rápida proliferação do vírus. Isso proporcionou o aumento do trabalho e dos estudos em home office. Assim, pelo menos na teoria, seria o momento para muitas famílias se aproximarem e intensificarem a intimidade e o diálogo. 


Porém, não é exatamente isso que observamos em muitos causos e casas. 


Apesar das pessoas estarem fisicamente mais tempo em casa, as redes sociais estão tomando um tremendo tempo de muitos casais e filhos. Quando não é a rede social, são os canais de notícias, jogos no computador ou vídeo games.


Muitas pessoas começaram a utilizar os instrumentos oferecidos pela tecnologia de forma excessiva, gerando um caos na mente de vários seres humanos, e uma superficialidade do diálogo familiar. 


Alguns estão viciadas nos smartphones, e com isso há pouco tempo para o diálogo dentro de casa.

O vício da tecnologia

Tem famílias que conversam entre si pelo WhatsApp, mesmo estando apenas a 2 ou 3 metros de distância, separados apenas pela parede do quarto que os divide. Às vezes, nem há parede para separar. 


O diálogo dentro de casa reduziu bastante. Isso permitiu que aquele diálogo com maior riqueza de informações ficasse de lado. Muitas vezes não ocorre uma compreensão e entendimento do que o outro diz e opina sobre determinado assunto.

 
A falta de compreensão do outro é um perigo em potencial para conflitos verbais, ou até mesmo físicos em casos mais extremos. 


Quando não se compreende pode ocorrer falta de respeito. Isso acarreta não um distanciamento físico, mas um distanciamento emocional e intelectual.


Por outro lado, percebemos que a tecnologia nos aproxima de várias outras pessoas.

Conversamos com pessoas do outro lado do país ou do mundo, conhecemos mais pessoas. Porém, essa possibilidade de conexão com maior número de pessoas não significa necessariamente que as pessoas estão dialogando e se entendendo mais. 


Normalmente tais conexões, quando ocorrem, é de forma passageira e superficial. Por meio da digitação, em que a comunicação está restrita pela escrita e não há outros maneiras de interpretar o que o interlocutor está querendo dizer, como expressões faciais, entonacao de voz. Isso reduz em muito a capacidade de entendimento da afetividade e da emoção de quem fala e de quem recebe a comunicação. 


Outra observação importante é que a tecnologia está proporcionando maior interação entre aqueles com maior vínculo de ideias e interesses.

Os famosos algoritmos das redes sociais e dos mecanismos de buscas estão possibilitando que pessoas com interesses comuns fiquem cada vez mais próximas umas das outras.

Isso pode ser bom por um lado, e ruim por outro. Pode ser bom por normalmente encontrar quem concorde com você, e isso pode ser bom para sua individualidade momentânea, visto que observara que não estará sozinho no seu pensamento e na sua maneira de pensar.

Por outro lado, pode ser prejudicial ao restringir as possibilidades de interação com outras visões e pensamentos alheios ao seu. Essa restrição não é visível para todos, mas é arquitetada para acontecer, a depender dos algoritmos e configurações da Internet do seu computador, smartphones, email e redes sociais.


E o que isso tem haver com o distanciamento familiar? 


A permanência na Internet por muito tempo cria-se bolhas de informações e conhecimento.

Assim, determinadas pessoas começam a visualizar apenas um tipo de conteúdo, um tipo de pensamento, e pouco exposto ao contraditório.

Dessa maneira, o pouco tempo em que dialoga com os familiares em casa, a pessoa tende a ter visões de mundo limitadas, o que pode proporcionar intensa divergência de ideias entre os familiares dentro de casa, causando opiniões muito contraditórias e conflitos.

Tais conflitos podem afastar ainda mais as pessoas dentro da própria casa. 

Globalização e família


Outra situação possível de maior distanciamento de familiares está na própria globalização. O mundo está mais conectado entre os países. Viagens internacionais estão acontecendo cada vez mais (exceto nesse momento de pandemia), e morar em país diferente em que nasceu não é mais tão difícil quanto há 30-50 anos. 


Hoje em dia observamos muitos estudantes e profissionais trabalhando em diferentes países. Isso gera mais distanciamento familiar das pessoas que possuem esse tipo de vida.

Independência Feminina


Outra causa do distanciamento familiar é o fortalecimento progressivo e gradual da independência da mulher.

Sabemos que, em muitas situações, as mulheres eram reprimidas e desvalorizadas no âmbito nuclear familiar.

A mulher não tinha seus desejos valorizados e respeitados, e com isso muitas vezes ocorria uma submissão do sexo feminino diante do masculino. Geralmente isso acontecia em virtude do nome familiar e da tradição cultural.

Ainda é recente e há muito o que ser desenvolvido, porém os últimos 50 anos de fortalecimento dessa autonomia feminina demonstrou que tal característica veio para ficar e ser adaptado.

Como trata-se de uma mudança na forma e organização da cultura familiar, a consequência desse processo é o maior número de separações familiares e distanciamento entre os membros da própria família. Isso não é uma crítica da situação em si. E si uma reflexão dos fatos.

Conclusão


Ainda há potencial para muitas mudanças relacionadas ao tema. É difícil prever como será os próximos 50 – 100 anos em termos de distanciamento familiar.

Torço para que todos da mesma família busquem o diálogo, o respeito mutuo, a compreensão e a ajuda ao próximo. Assim, acredito na aproximação da família e no bem estar individual. 

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Diego Tinoco

Diego Tinoco é cidadão brasileiro. Nasceu em Curvelo-MG e atualmente reside em Belo Horizonte. É médico, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da UFMG, pós graduado em saúde da família pela UFMG. Nesse site você encontra opiniões do cidadão sobre a vida e o mundo.

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