Last Updated on 6 de abril de 2024 by Diego Tinoco
Quando realmente surgiu o TDAH? A resposta pode te surpreender!
Muitos podem pensar que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição moderna, uma “tendência” do século XXI. Ou até mesmo um “transtorno inventado pela indústria farmacêutica” ou simplesmente “doença inventada” para vender medicamentos. No entanto, a realidade é que os sintomas associados ao TDAH foram reconhecidos e documentados muito antes do que a maioria imagina.
Vamos explorar as primeiras observações sobre inatenção e hiperatividade e desvendar o mito por trás da percepção moderna do TDAH
Cornelius Albert Kloekhof
Pesquisadores descobriram recentemente uma referência ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em um texto médico holandês datado de 1753, recuando a história conhecida dessa condição em 20 a 25 anos. A revelação veio à luz através de um artigo publicado em 18 de março de 2024 na renomada revista científica Journal of Attention Disorders. Até então, acreditava-se que a primeira menção ao TDAH na literatura médica tivesse sido feita por Melier Adam Wert, na Alemanha, aproximadamente entre 1770 e 1775. Este novo achado, detalhado no Journal of Attention Disorders, realça a contribuição significativa de Cornelius Albert Kloekhof na descrição da condição, alterando a compreensão previamente estabelecida sobre a cronologia histórica do TDAH.
Melchior Adam Weikard
O marco inicial dessa jornada nos leva ao livro “Der Philosophische Arzt” (traduzido como “O Médico Filósofo”), escrito pelo renomado médico alemão Melchior Adam Weikard. Publicado em 1775, este trabalho é considerado por muitos como a primeira referência literária a sintomas que hoje associamos ao TDAH.
Dentro de suas páginas, Weikard escreve:
“Uma pessoa inatenta não alcançará conhecimento profundo. Ele ouve, lê e estuda apenas superficialmente; vai fazer julgamentos errados e não reconhecerá o verdadeiro valor e a verdadeira natureza das coisas porque não dedica tempo e paciência suficientes para olhar profundamente para uma coisa, individualmente ou em detalhes com precisão suficiente. Pessoas assim sabem tudo apenas pela metade; eles notam ou se lembram apenas pela metade. A inatenção ocorre mais facilmente quando, por exemplo, em uma leitura ou em uma sociedade, ou por um evento notável, a cabeça é fortemente enxertada com certas ideias: então, em outra sociedade, dificilmente se ouve ou vê; você lê sem saber o que leu, o que deve resultar em precipitações e julgamentos equivocados”.
Em outro trecho, Weikard aconselha:
“Para não cair em erros por negligência ou falta de atenção, pense por um tempo nas menores ações que deseja realizar. Isso é especialmente necessário para indivíduos impetuosos e animados, onde também se procura conter um pouco o calor ou movimento rápido do sangue e a rapidez das fibras.”
Embora não possamos afirmar categoricamente que Weikard estava descrevendo o TDAH como o conhecemos hoje, é evidente que ele reconheceu e refletiu sobre as características de indivíduos que mostravam dificuldades em manter a atenção.
Alexander Crichton
Apenas alguns anos depois, em 1798, o médico escocês Alexander Chichton publicou o livro “An inquiry into the nature and origin of mental derangement. Comprehending a concise system of the physiology and pathology of the human mind and a history of the passions and their effects.” Em português a tradução seria algo do tipo: Uma investigação sobre a natureza e origem do desequilíbrio mental. Compreendendo um sistema conciso da fisiologia e patologia da mente humana e uma história das emoções e seus efeitos.
Em dos capítulos do livro, Alexander escreveu sobre a faculdade de atenção e seus problemas. Para conceituar e explicar a atenção, ele disse que quando um objeto externo ou um pensamento domina a mente ao ponto de obscurecer outras percepções, dizemos que a pessoa está com atenção nesse objeto ou pensamento. Esse mecanismo mental é frequentemente referido como a capacidade de atenção, que é fundamental para a aquisição de conhecimento. Cada um de nós pode perceber que essa habilidade varia não só entre diferentes pessoas, mas também em nós mesmos em diferentes ocasiões.
No capítulo sobre atenção deste livro, o autor diferencia a faculdade de atenção e do poder da atenção. Ele afirma que a mesma pessoa pode perceber que seu poder de atenção é afetado por diversos fatores, como cansaço, após uma refeição pesada ou durante uma doença.
Isso nos leva a diferenciar entre a “faculdade de atenção” e o “poder de atenção”. A “faculdade” refere-se à habilidade inerente de se concentrar, que está sempre presente, independentemente de estar sendo usada ou não. Já o “poder” refere-se à intensidade com que essa habilidade é exercida em resposta a estímulos mentais. Em outras palavras, enquanto a faculdade de atenção é uma característica constante, o poder de atenção pode variar de acordo com as circunstâncias e estímulos.
Heinrich Hoffman
Em 1845, o médico psiquiatra alemão escreveu o livro Der Struwwelpeter (traduzido e vendido no Brasil com o nome: João Felpudo ou histórias divertidas com desenhos cômicos do Dr. Heinrich Hoffmann).
O médico escreveu esse livro para dar de presente ao filho de 3 anos, publicando-o posteriormente.
Em um dos poemas do livro, o médico e escritor descreve situações que são mais comuns (mas não só) em crianças com hiperatividade e dificuldade de atenção nos dias de hoje.
Segue um dos trechos de um dos poemas em nossa tradução para o português:
“Será que o Felipe hoje ficará quieto
E sentará-se bem na mesa?”
Assim falou, em tom sério,
O pai para o seu filho…
Mas o Felipe não ouvia
O que o pai lhe dizia.
Ele brinca e balança,
Ele pisa
E se agita
Na cadeira, para lá e para cá.
…. Ele agarra o tecido da mesa e grita.
Mas o que adianta?
Ao mesmo tempo,
Caem pratos, garrafas e pão…
Artigo em atualização…
Referencias bibliográficas:
Google Books: Melchior Adam Weikard (1799). Der philosophische Arzt. Retrieved 19 June 2013. Acesso em 15 de Agosto de 2023
Google Books: Sir Alexander Crichton. An Inquiry Into the Nature and Origin of Mental Derangement: Comprehending a Concise System of the Physiology and Pathology of the Human Mind. And a History of the Passions and Their Effects, Volume 1. Editora T. Cadell, junior and W. Davies, 1798. Acesso em 15 de Agosto de 2023
Heinrich Hoffmann. Der Struwwelpeter oder lustige Geschichten und drollige Bilder (HD): Optimiert für digitale Lesegeräte (HD) (Kinderbücher bei Null Papier) (German Edition) / João Felpudo ou histórias divertidas com desenhos cômicos do Dr. Heinrich Hoffmann (Edição em Português) Acesso em 15 de Agosto de 2023
van Kernebeek, M. W., & Crunelle, C. L. (2024). The Beginnings of Attention Deficit in a Dutch 18th Century Medical Treatise. Journal of Attention Disorders, 0(0). https://doi.org/10.1177/10870547241238926